domingo, 7 de dezembro de 2014

Por Que Eu Sou Flamengo

         Esta foto vai ser "explicada" depois...

O ano era 1964, portanto, há cerca de meio século e o local era a rua Piratininga, na Gávea, onde eu morava com meus pais e irmãos; Maria da Graça, botafoguense, mais velha e como eu, pernambucano; Mario Cesar, um ano mais novo e Ilde Maria, recém-nascida, cariocas; claro que, ainda sem time; meu irmão seria influenciado pela minha escolha, sábia, se não, espiritual e a Maria Lina, que viria em 66, ainda estava nas mãos de Deus; mas, também faria a melhor escolha, ou seja, “lá em casa”, entre Marios e Marias, irmãos, ficou no 3x2; porque a Ilde Maria, “tadinha”, seguiu a irmã mais velha.
Meu pai era capixaba, torcedor do América e minha mãe, pernambucana, torcia pelo Náutico; ainda bem que eles não tinham devoção pelos seus times, mesmo, pelo esporte “bretão”.
Essa história de dizer que torcemos pelo time do coração desde que nascemos é metafórica, mas, costumamos falar assim, para darmos uma ênfase maior à nossa paixão; o fato é que eu, àquela ocasião, tinha 6 (seis) ou 7 (sete) anos, dependendo se a situação que lhes vou contar, a seguir, ocorreu antes ou depois do dia 17 de julho; acho que foi antes...
A rua era uma ladeira íngreme, com paralelepípedos, ou seja, não jogávamos bola; havia muitas crianças, muitas brincadeiras de bola de gude, de roda, amarelinha, zarabatana, pique, queimado e a inevitável descoberta das amizades e até, de desafetos.
A embaixada ou consulado (não sei) da França ficava no alto, ao final, da ladeira; recordo o dia em que Charles de Gaulle, aquele do “n’est pas serieux”, esteve lá, acho que em 64.
Assim, as influências que tive, viriam da escola, da rua e/ou de casa, para a escolha do time; a pressão mais forte foi da rua e a grande maioria dos “amiguinhos” era botafoguense, Carlos Eurico, Sérgio, os irmãos Leonel e Leonardo e tantos outros, da memória me fogem outros nomes; mas, não, a consciência de que (quase) todos eram torcedores do clube da estrela solitária; hoje, cada vez mais isolada.
Assim é que, em um dia iluminado, alguém, um anjo rubro-negro, me disse: "torce pro Flamengo, que o Flamengo é tricampeão"! Palavras mágicas e a criança tende a escolher, como outra influência, sempre, os vencedores e eu não fui diferente.
À bem da verdade, em 63, o Fla era o campeão carioca e não ganhou 64, por que perdeu, na última rodada, por 1x0, justamente para o Botafogo, que não disputava mais nada; com o resultado, Fluminense e Bangu decidiram, numa melhor-de-três, o campeonato.
Em 65, o Fla ganhou de novo, ou seja, poderia ser, então, “Tri-Tri” e hoje, já seríamos “Hexa-Tri”, não fosse a derrota, que fará 50 anos no próximo dia 13.
Efetivamente, só fui acompanhar futebol, em 66, no radinho de pilha ou no Maracanã, mas, em 64, escolhi o Flamengo, repito, graças a Deus e ao meu anjo da guarda; então, pensem no tamanho do meu desespero, hoje, na minha condição de "FLAnático", torcendo por quaisquer destes times que já citei, vendo a atual derrocada dos mesmos; o pior, a desesperança de futuro para estas agremiações.
E o Botafogo, a começar por esta derrota de 64, era o meu grande algoz, foram cinco anos sem vitórias, a perda da Taça GB de 68, quando iríamos jogar pelo empate, contra o Bonsucesso, em partida adiada e conseguimos perder de 2x0, com gols aos 15 e aos 90 minutos, depois de desperdiçarmos uma infinidade de chances; pena que não haja registros, creio, desta partida, que foi a 1ª que vivenciei, numa espécie de prelúdio, de outras derrotas sobrenaturais, como as ocorridas, anos depois, para o Santo André e para o América do México.
Naquele tempo, a Taça GB era um campeonato à parte, importante, o campeão participaria da Taça Brasil; a partida extra, decisiva, foi ganha pelo Botafogo, por 4x1, com 100.000 torcedores, numa noite de 4ª-feira, "de cinzas", para nós.
Quando, na falsa e anterior "decisão", Flamengo e Botafogo empataram em 0x0, tendo o Fio, que ainda não era o Maravilha, cabeceado uma bola no travessão, livre, eu estava no Maraca; ninguém, na sequência, acreditava que o Mengão não empataria, sequer, com o time da Vila Leopoldina; mas, deu no que deu e o Botafogo, que já saíra em excursão, teve que voltar às pressas para nos “massacrar”; mas, o pior seria ouvir o coro: “um, dois, três, Flamengo é freguês”! E tome bis...
Esta final caiu no colo deles, era um timaço, com Carlos Roberto e Gérson; Zequinha, Roberto, Jairzinho e Paulo Cézar Caju; sim, naquele tempo, os times jogavam no esquema tático 4-2-4 e o Zequinha, na ponta direita, tinha sido campeão juvenil pelo Flamengo em 67; compondo um ataque fantástico com Dionísio, Luís Carlos e Arílson.
Zequinha foi para o Botafogo, numa destas mirabolantes trocas que o CRF fez, cedendo o craque promissor, por um jogador “bichado”, Zélio; aliás, o 2° gol deles foi do ex-flamenguista, quando o jogo estava empatado em 1x1, já no 2° tempo.
Nem precisamos falar de Vampeta por Adriano e Reinaldo, nem de Doval, Renato e Rodrigues Neto, cedidos ao Fluminense, em troca-troca por Toninho, Roberto e Zé Roberto; quem ganhou com estas permutas?
Mas, voltando ao Botafogo, à época da minha opção flamenguista e durante muitos anos seguintes, foi o clube alvinegro que me fez chorar, odiar, “secar”, sonhar, digo, ter pesadelos; assim, contrária e fervorosamente, escolhi pra torcer e amar, um time vencedor que, temporalmente, não o era ou não, com tamanha ênfase; posto que o Botafogo, em 68, era bicampeão carioca, bicampeão da Taça GB e campeão da Taça BrasiI; recordando que, quatro anos depois, no aniversário do Flamengo, eu também estaria no Maracanã e veria os 6x0 deles, placar, este, já devolvido com bastante correção; por sinal, guardei o ingresso deste jogo, por muitos anos, até perdê-lo em uma das muitas mudanças de domicílios que fizemos de bairros e cidades desse país continental.
Enfim, graças a Deus e ao meu anjo da guarda, sei, com orgulho, com paixão, “Por Que Eu Sou Flamengo”.


SRN!