Esta foto vai ser "explicada" depois...
O ano era 1964, portanto, há cerca de
meio século e o local era a rua Piratininga, na Gávea, onde eu morava com meus
pais e irmãos; Maria da Graça, botafoguense, mais velha e como eu,
pernambucano; Mario Cesar, um ano mais novo e Ilde Maria, recém-nascida,
cariocas; claro que, ainda sem time; meu irmão seria influenciado pela minha
escolha, sábia, se não, espiritual e a Maria Lina, que viria em 66, ainda
estava nas mãos de Deus; mas, também faria a melhor escolha, ou seja, “lá em
casa”, entre Marios e Marias, irmãos, ficou no 3x2; porque a Ilde Maria,
“tadinha”, seguiu a irmã mais velha.
Meu pai era capixaba, torcedor do
América e minha mãe, pernambucana, torcia pelo Náutico; ainda bem que eles não
tinham devoção pelos seus times, mesmo, pelo esporte “bretão”.
Essa história de dizer que
torcemos pelo time do coração desde que nascemos é metafórica, mas, costumamos
falar assim, para darmos uma ênfase maior à nossa paixão; o fato é que eu,
àquela ocasião, tinha 6 (seis) ou 7 (sete) anos, dependendo se a situação que
lhes vou contar, a seguir, ocorreu antes ou depois do dia 17 de julho; acho que
foi antes...
A rua era uma ladeira íngreme,
com paralelepípedos, ou seja, não jogávamos bola; havia muitas crianças, muitas
brincadeiras de bola de gude, de roda, amarelinha, zarabatana, pique, queimado
e a inevitável descoberta das amizades e até, de desafetos.
A embaixada ou consulado (não
sei) da França ficava no alto, ao final, da ladeira; recordo o dia em que
Charles de Gaulle, aquele do “n’est pas serieux”, esteve lá, acho que em 64.
Assim, as influências que tive, viriam da escola, da rua e/ou de casa, para a escolha do time; a pressão mais
forte foi da rua e a grande maioria dos “amiguinhos” era botafoguense, Carlos
Eurico, Sérgio, os irmãos Leonel e Leonardo e tantos outros, da memória me
fogem outros nomes; mas, não, a consciência de que (quase) todos eram
torcedores do clube da estrela solitária; hoje, cada vez mais isolada.
Assim é que, em um dia iluminado,
alguém, um anjo rubro-negro, me disse: "torce pro Flamengo, que o
Flamengo é tricampeão"! Palavras mágicas e a criança tende a escolher,
como outra influência, sempre, os vencedores e eu não fui diferente.
À bem da verdade, em 63, o Fla
era o campeão carioca e não ganhou 64, por que perdeu, na última rodada, por 1x0,
justamente para o Botafogo, que não disputava mais nada; com o resultado,
Fluminense e Bangu decidiram, numa melhor-de-três, o campeonato.
Em 65, o Fla ganhou de novo, ou
seja, poderia ser, então, “Tri-Tri” e hoje, já seríamos “Hexa-Tri”, não fosse a
derrota, que fará 50 anos no próximo dia 13.
Efetivamente, só fui acompanhar
futebol, em 66, no radinho de pilha ou no Maracanã, mas, em 64, escolhi o Flamengo,
repito, graças a Deus e ao meu anjo da guarda; então, pensem no tamanho do meu
desespero, hoje, na minha condição de "FLAnático", torcendo por quaisquer destes
times que já citei, vendo a atual derrocada dos mesmos; o pior, a desesperança
de futuro para estas agremiações.
E o Botafogo, a começar por esta
derrota de 64, era o meu grande algoz, foram cinco anos sem vitórias, a perda
da Taça GB de 68, quando iríamos jogar pelo
empate, contra o Bonsucesso, em partida adiada e conseguimos perder de 2x0, com gols
aos 15 e aos 90 minutos, depois de desperdiçarmos uma infinidade de chances; pena que
não haja registros, creio, desta partida, que foi a 1ª que vivenciei, numa
espécie de prelúdio, de outras derrotas sobrenaturais, como as ocorridas, anos
depois, para o Santo André e para o América do México.
Naquele tempo, a Taça GB era um
campeonato à parte, importante, o campeão participaria da Taça Brasil; a
partida extra, decisiva, foi ganha pelo Botafogo, por 4x1, com 100.000
torcedores, numa noite de 4ª-feira, "de cinzas", para nós.
Quando, na falsa e anterior
"decisão", Flamengo e Botafogo empataram em 0x0, tendo o Fio, que
ainda não era o Maravilha, cabeceado uma bola no travessão, livre, eu estava no Maraca; ninguém, na
sequência, acreditava que o Mengão não empataria, sequer, com o time da Vila
Leopoldina; mas, deu no que deu e o Botafogo, que já saíra em excursão, teve
que voltar às pressas para nos “massacrar”; mas, o pior seria ouvir o coro: “um,
dois, três, Flamengo é freguês”! E tome bis...
Esta final caiu no colo deles,
era um timaço, com Carlos Roberto e Gérson; Zequinha, Roberto, Jairzinho e
Paulo Cézar Caju; sim, naquele tempo, os times jogavam no esquema tático 4-2-4 e o
Zequinha, na ponta direita, tinha sido campeão juvenil pelo Flamengo em 67;
compondo um ataque fantástico com Dionísio, Luís Carlos e Arílson.
Zequinha foi para o Botafogo,
numa destas mirabolantes trocas que o CRF fez, cedendo o craque promissor, por um jogador
“bichado”, Zélio; aliás, o 2° gol deles foi do ex-flamenguista, quando o jogo
estava empatado em 1x1, já no 2° tempo.
Nem precisamos falar de Vampeta
por Adriano e Reinaldo, nem de Doval, Renato e Rodrigues Neto, cedidos ao
Fluminense, em troca-troca por Toninho, Roberto e Zé Roberto; quem ganhou com
estas permutas?
Mas, voltando ao Botafogo, à
época da minha opção flamenguista e durante muitos anos seguintes, foi o clube
alvinegro que me fez chorar, odiar, “secar”, sonhar, digo, ter pesadelos;
assim, contrária e fervorosamente, escolhi pra torcer e amar, um time vencedor
que, temporalmente, não o era ou não, com tamanha ênfase; posto que o Botafogo,
em 68, era bicampeão carioca, bicampeão da Taça GB e campeão da Taça BrasiI;
recordando que, quatro anos depois, no aniversário do Flamengo, eu também estaria no
Maracanã e veria os 6x0 deles, placar, este, já devolvido com bastante
correção; por sinal, guardei o ingresso deste jogo, por muitos anos, até perdê-lo em uma
das muitas mudanças de domicílios que fizemos de bairros e cidades desse país continental.
Enfim, graças a Deus e ao meu
anjo da guarda, sei, com orgulho, com paixão, “Por Que Eu Sou Flamengo”.
SRN!