domingo, 4 de janeiro de 2015

Flamengo, Rio, de 66 a 72 - 2ª Parte


Reportando, mais uma vez, ao 1° texto, “Por Que Eu Sou Flamengo”; cheguei, meus pais me trouxeram, ao Rio, em jan/58; tendo voltado a Recife em duas oportunidades, dez/67-jan/68 e dez/71-jan/72, de férias, do meu pai, claro; em ambas as ocasiões, de Kombi, muita coragem do velho, àquela época, hein?
Por ocasião desta 2ª passagem, fomos a Igarassu e eu, de pouca religiosidade; mas, de muita fé, entrei na igreja matriz, Cosme e Damião e pedi, fervorosamente, para o Flamengo ser campeão carioca em 72; eu nunca tinha visto meu time conquistar um campeonato estadual, já havia perdido algumas finais e ganho, apenas, a Taça GB de 70; em jogo contra o Fluminense, 1x1, com público superior a 105.000 pagantes, onde jogávamos pelo empate; mas, apesar do grande valor da Taça GB naqueles tempos, ainda não era o estadual.
Então, nesse ano, fomos campeões do Torneio do Povo, da Taça GB, a 1ª que valia pelo turno inicial do campeonato, ganhando de 5x2 dos tricolores, três gols, “hat-trick”, termo desconhecido à época e sem música no Tadeu, do Caio Cambalhota e a final, por 2x1, também contra os tricolores, lavando minh’alma.
Fui aos dois jogos, pegava o busão 455, Méier-Copacabana, no Posto 6; depois, muita emoção e muita gozação no clube, na praia e no CPII.
Na 3ª ida a Recife, dez/72- jan/73, nas mesmas condições, não houve retorno à “Cidade Maravilhosa”; desde então, não moro na capital do meu coração; mas, em algumas oportunidades, obviamente, já voltei ao Rio e vi jogos do Flamengo no Maraca e também assisti a outras partidas, em alguns estádios do nordeste.
O tempo é 66 a 72; mas, sutilmente, entrei em 73, que é um divisor de espaços e lugares.
O fato é que meus pais decidiram, em comum acordo, (hum!) não retornarem; assim, deixei o Colégio Pedro II, Humaitá e a Lia Cristina, ginásio 69 a 72, para trás; na verdade, já os deixaria, pelo menos, a escola; posto que havia me classificado para o curso de Máquinas e Motores (Mecânica) da Escola Técnica Federal Celso Suckof da Fonseca, atual CEFET.
Voltei para uma “terra estranha”, a minha cidade natal e salvo engano, as aulas, na escola do Maracanã, começariam em março/73; então, meus pais trouxeram a minha transferência e pude freqüentar (ainda não desisti do trema!), no bairro do Dérbi, em Recife, o curso de Mecânica, cujas aulas haviam começado em fevereiro.
Pensem, quando no 1° dia de aula que compareço à ETFPE, em março, tomo ciência que as aulas já estavam em curso há um mês; então, quando me apresento e começo a interagir, no idioma carioquês; tchia, ao invés de tia; matemátchica e não, matemática; paiê, mãiê e nada de painho ou mainha; convivendo e ouvindo “vices” e “ôches”, me percebo como minoria e por razões óbvias, bem satisfeito, torno-me o “carioca”; aliás, este foi o meu 2° apelido, o 1° era “Caixote”, em alusão ao último sobrenome, dos tempos da AABB, quando jogava no time de futebol de salão; sem essa de futsal; claro que o meu irmão era o “Caixotinho”.
Mal comecei esta postagem e vieram os apostos; ou seja, recordei histórias, fatos anteriores aos que ainda vou descrever, que é o gol de Rondinelli; aliás, nem sei quantos ele fez; mas, certamente, foi, é e sempre será imortalizado por este, no dia 3/dez/78, contra o nosso, então, maior rival, contumaz e insistente, “personal vice”, Vasco da Gama.
Assim, continuando no tema aposto (ô), em 72, eu estava na Gávea, num sábado à tarde, para ver a final do campeonato carioca de juvenis; hoje, acho que seria o campeonato sub-20; pra variar, CRF x CRVG; olha o nosso time: Cantarelli, Nei, Jaime (ele mesmo, o “de Almeida”), Rondinelli (o próximo tema, espero...) e Vanderlei (o Luxa), Léo e Geraldo (assoviador, craque, falecido em ago/76, em decorrência de uma simples cirurgia, mal sucedida, de retirada de amígdalas), Dudu (irmão do Fio e Michila), Fidélis (artilheiro do campeonato, que não vingou nos profissionais), ZICO (todas as letras maiúsculas) e Julinho,  que não é o Uri Gueller.
O Flamengo ganhou de 2x0 e foi o campeão, gols de ZICO e Fidélis ou Julinho, salvo engano; do outro lado, tinha o Roberto Dinamite.
Voltando à Taça de Prata de 70, Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, que é colocado como embrião do campeonato brasileiro; tenho absoluta convicção que os campeonatos de 67 a 70 são, de fato, os primeiros campeonatos brasileiros, dadas as suas formatações e por terem ampliado a participação de times fora do eixo Rio-São Paulo.
Entendo que, em hipótese alguma, as Taças Brasil de 59 a 68, poderiam ou deveriam ter equivalência aos “brasileirões”; porque, apesar da amplitude maior em seu formato, o modelo da disputa era, claramente, copeiro, de “mata-mata”, similar, em escala muito menor, às Copas do Brasil de hoje; inclusive, invariavelmente, os times do Rio e de São Paulo já entravam nas semifinais.
Estes aspectos deveriam ser determinantes para definir, não pecando pela semântica, o que é um campeonato e o que é um torneio; apesar do fato que a Taça Brasil, que foi criada para indicar o time brasileiro que jogaria a Libertadores, tenha ocorrido como único torneio nacional durante oito dos dez anos de sua existência; mas, a canetada política da CBF distribuiu os títulos aos clubes; onde ratifico, politicamente ou não, os “Robertões” de 67 a 70 são campeonatos brasileiros verdadeiramente válidos; assim como o nosso tetra de 87, ganho no campo, jogando contra os melhores clubes do Brasil; mas, a incompetência do nosso jurídico de então, nos condiciona, hoje, a pleitearmos uma divisão de campeonato, a colocar um * na conquista, escrito assim mesmo, simbolicamente; por conta de um “transitado em julgado” que não pode mais ser contestado.
Mas, somos HEXAgerados e com essa onda azul, não há limites para a realização das nossas expectativas de sucesso.

SRN!

Flamengo, Rio, de 66 a 72 - 1ª Parte


Pretendia nomear este texto como “O Gol de Rondinelli”; mas, ao chegar já no 3° parágrafo, o modifiquei; porque várias lembranças anteriores me levaram a falar sobre outros acontecimentos marcantes da minha paixão flamenguista; assim, na sequência, começaria o texto que, primordialmente, descreveria o gol decisivo e espetacular do Deus da Raça, Antonio José Rondinelli Tobias; mas, segue outra narrativa.
Em duas ocasiões, por vontade própria, não acompanhei, total ou parcialmente, jogos do Flamengo; a 1ª foi na Taça de Prata de 1970, o penúltimo jogo do Mengão, numa 4ª-feira, à noite, contra o Atlético Mineiro.
Consultando o Almanaque do Flamengo, confirmei a data, 2/dez; o fato é que me tranquei no quarto, “amarrei” minhas mãos e “tapei” meus ouvidos até o final do jogo, sabedor que o vídeo tape – é o novo! – passaria às 23:00hs, logo após o encerramento da partida; nesta época, claro, não havia internet, celular e a novela das oito era, definitivamente, às oito em ponto ou só um pouquinho depois.
Lembro, claramente, da vitória por 1x0, gol dele, Fio Maravilha, aos dezesseis minutos do 2° “teempo”; em referência ao famoso gol aos trinta e três minutos, também do 2° “teempo” e que ainda aconteceria, em jan/72; mas, “nós gostamos de você”...
A propósito, para quem desconhece, a inspiração para a música “Fio Maravilha”, do compositor flamenguista fanático, claro pleonasmo, Jorge, apenas Ben, àquela ocasião, foi o gol antológico, da vitória simples contra o Benfica, no Torneio Internacional de Verão; só para ratificar, a final foi contra o Vasco, de novo, vitória por 1x0, gol de Paulo César Lima, o Caju, grande contratação do Mengão para aquele ano.
Voltando àquela Taça de Prata, doloroso lembrar que, no sábado seguinte, dia 5/dez, um simples empate levar-nos-ia – é ruim, hein? – ao quadrangular decisivo; mas, no Pacaembu, perdemos para o Corinthians, por 1x0, gol de Aladim, de falta, aos 40 do 1° tempo e o Fluminense, que já havia nos derrotado, em partidas decisivas, ganhando a Taça GB de 66 e o estadual de 69; classificou-se para as finais, ao empatar por 1x1 com o Atlético PR, gol de Mickey, “roubando-nos” a vaga; depois, este mesmo jogador, fez todos os gols do tricolor nos jogos contra Palmeiras, Cruzeiro e Atlético MG; estabelecendo, o que seria considerado, anos mais tarde, o 1° campeonato brasileiro do nosso ex-rival; sim, por que, dadas as circunstâncias atuais, de perda de patrocínio da poderosa (S)U(S)nimed, esta rivalidade tende a se acabar, tal como com as demais, em forte agonia no Rio de Janeiro; já que nem Vasco da Gama, nem Botafogo oferecem riscos iminentes ou a médio prazo à nossa supremacia inconteste.
Quanto à perda do estadual de 69, Flu 3x2 Fla; este, um dos jogos mais emocionantes que presenciei no velho Maraca; meu pai nos levou, eu e o meu irmão.
Lembro, claramente, dos gols do Flamengo, Liminha, um chutaço de fora da área, no 1° tempo, decretando o 1° empate e Dionísio, o “bode atômico”, com uma cabeçada indefensável, sempre era desta forma, aos 15 do 2° tempo.
Jogávamos com dez, desde o final do 1° tempo, com a expulsão do goleiro, o paraguaio Dominguez, que partiu vertiginosamente contra a arbitragem da partida, após a validação do 2° gol deles, do Cláudio, absurdamente impedido, irregular, roubado, fluminensiado.
Mas, a mística do manto rubro-negro entrou em campo e após o empate tivemos várias chances de ganhar a partida; mas, o “Sobrenatural de Almeida”, como dizia o tricolor Nelson Rodrigues, salvou o time das Laranjeiras, que ainda desempatou com um gol do Flávio, centroavante e goleador; que, de voleio, fez o gol da vitória; a pressão, de novo pelo empate, persistiu; mas, foi em vão, perdemos outra final, de forma dolorosa.
Para completar este período e ratificando o que eu falei no “Por Que Eu Sou Flamengo”; comecei a, verdadeiramente, acompanhar o clube, a partir de 66, apesar de “conhecê-LO” em 64, como já o disse; recordo que, o 1° jogo que ouvi no meu radinho de pilha, foi um empate em 2 x 2 com o Bonsucesso, pela 1ª rodada da Taça GB de 66.
Gostava da rádio Globo, com o Mario ViaNNa, com dois enes, como ele sempre frisava; com o Jo sé Car los A ra ú jo, aquele so “sou eu” e menos, do locutor “preguiçoso”, Waldir Amaral, o do: “você, ouvinte é a nossa meta, pensando em você é que procuramos fazer o melhor”.
Mas, era na emissora Continental, com o narrador, para mim, incomparável, Clóvis Filho, que eu ouvia, torcia, quando não estava nos campos, Maracanã, Gávea e demais estádios e vibrava, “flamenguisticamente”, quando ele narrava, a plenos pulmões: “no cant’é gooooooooool do Flamengoooooooooo”.
A bola poderia entrar no meio do gol; mas, era sempre no canto e este canto ainda ecoa na minha mente, em minh’alma!
Por conta deste empate, na 1ª rodada, como disse anteriormente, fomos decidir o título contra o Fluminense e perdemos por 3x1; este, meu 1° vice como torcedor; pior, foi a derrota na final do carioca daquele ano, por 3x0 para o Bangu; jogo histórico, pela confusão armada pelo cerebral Almir Pernambuquinho, meu conterrâneo, que, em declaração posterior, falou que o nosso goleiro estava vendido para o Castor de Andrade, famoso bicheiro, então, presidente do time alvirrubro.
Em resumo: uma briga foi protagonizada, sendo expulsos nove jogadores, cinco do Fla e quatro do Bangu, número tal que determinaria o fim da partida e do campeonato.
No 1° turno, vitória maiúscula, por 2x1, num domingo à tarde, com chuva torrencial e vitória de virada, gols de Silva, expulso pouco depois e Almir, um gol de extraordinária raça, aos “quarenta e uns” minutos do 2° tempo, onde ele deu duas cabeçadas; na 1ª, o Ubirajara espalmou e na 2ª, o “Pernambuquinho” mergulhou na poça d’água e empurrou a bola para o fundo das redes adversárias, não sei se chegou lá; mas, ultrapassou a linha de demarcação.
Guardei, por muitos anos, recortes dos “retratos” deste gol, publicados nos cadernos esportivos do Jornal do Brasil, Jornal dos Sports e o O Globo; lamentavelmente, os perdi no tempo.
Olha o forte time banguense: Ubirajara (o Mota), Fidélis, Luis Alberto, Mario Tito e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira e Aladim; os dois pontas jogariam no time do então Parque São Jorge, posteriormente.
A 1ª vez que fui ao Maracanã, foi em 67, no Robertão, 1x1, contra o Flu, gol de Ademar Pantera, artilheiro ao final do campeonato, com quinze gols; emoção indescritível, ao subir as escadarias e vislumbrar o verde crescente do gramado; é como começar a perceber um “marzão” no horizonte que se aproxima aos olhos, à alma e ao coração.
Deste campeonato, lembro, claramente, de dois jogaços, em seqüência; 4x2 contra o Botafogo, numa 4ª-feira à noite, no Maraca, com três gols do Ademar e 3x3, no domingo posterior, contra o futuro campeão Palmeiras, no Pacaembu, gols de Ademar, Ademir (o da Guia), Ademar, Ademir; aí, o Servílio desafinou e fez 3x2 pros palestrinos; mas, ao final, o Pantera decretou o empate, em outro “hat trick”, expressão não cogitada à época e sem pedido de música no “Fantástico”, programa que nasceria em 73.
Nos jogos à noite, eu não deveria escutar, tinha aula no dia seguinte, bem cedinho; então, eu ia (fingir) dormir, por ordens da minha mãe; mas, colocava o radinho de pilha, debaixo do travesseiro, baixinho o suficiente para ouvir, sem que os outros percebessem; quando ela vinha conferir, eu abaixava mais o som e assim que saía do quarto, eu regulava o aparelho; mas, difícil mesmo era abafar o grito de gol, comemorar com a emoção sufocada no fundo do “coxim”.
Esse vitória sobre o Botafogo foi a mais marcante, pelas circunstâncias deste
torcedor e pela nossa, então, “freguesia” perante o alvinegro; condição esta, totalmente superada na era ZICO e amplificada nos anos seguintes.


Continua...


SRN!