Pretendia nomear este texto como “O Gol de
Rondinelli”; mas, ao chegar já no 3° parágrafo, o modifiquei; porque várias
lembranças anteriores me levaram a falar sobre outros acontecimentos marcantes
da minha paixão flamenguista; assim, na sequência, começaria o texto que, primordialmente, descreveria o gol decisivo e
espetacular do Deus da Raça, Antonio José Rondinelli Tobias; mas, segue outra narrativa.
Em duas ocasiões, por vontade própria, não
acompanhei, total ou parcialmente, jogos do Flamengo; a 1ª foi na Taça de Prata
de 1970, o penúltimo jogo do Mengão, numa 4ª-feira, à noite, contra o Atlético
Mineiro.
Consultando o Almanaque do Flamengo, confirmei
a data, 2/dez; o fato é que me tranquei no quarto, “amarrei” minhas mãos e
“tapei” meus ouvidos até o final do jogo, sabedor que o vídeo tape – é o novo!
– passaria às 23:00hs, logo após o encerramento da partida; nesta época, claro,
não havia internet, celular e a novela das oito era, definitivamente, às oito
em ponto ou só um pouquinho depois.
Lembro, claramente, da vitória por 1x0, gol
dele, Fio Maravilha, aos dezesseis minutos do 2° “teempo”; em referência ao
famoso gol aos trinta e três minutos, também do 2° “teempo” e que ainda aconteceria, em
jan/72; mas, “nós gostamos de você”...
A propósito, para quem desconhece, a inspiração
para a música “Fio Maravilha”, do compositor flamenguista fanático, claro
pleonasmo, Jorge, apenas Ben, àquela ocasião, foi o gol antológico, da vitória
simples contra o Benfica, no Torneio Internacional de Verão; só para ratificar,
a final foi contra o Vasco, de novo, vitória por 1x0, gol de Paulo César Lima,
o Caju, grande contratação do Mengão para aquele ano.
Voltando àquela Taça de Prata, doloroso lembrar
que, no sábado seguinte, dia 5/dez, um simples empate levar-nos-ia – é ruim,
hein? – ao quadrangular decisivo; mas, no Pacaembu, perdemos para o Corinthians, por 1x0,
gol de Aladim, de falta, aos 40 do 1° tempo e o Fluminense, que já havia nos
derrotado, em partidas decisivas, ganhando a Taça GB de 66 e o estadual de 69;
classificou-se para as finais, ao empatar por 1x1 com o Atlético PR, gol de
Mickey, “roubando-nos” a vaga; depois, este mesmo jogador, fez todos os gols do
tricolor nos jogos contra Palmeiras, Cruzeiro e Atlético MG; estabelecendo, o
que seria considerado, anos mais tarde, o 1° campeonato brasileiro do nosso
ex-rival; sim, por que, dadas as circunstâncias atuais, de perda de patrocínio
da poderosa (S)U(S)nimed, esta rivalidade tende a se acabar, tal como com as demais,
em forte agonia no Rio de Janeiro; já que nem Vasco da Gama, nem Botafogo
oferecem riscos iminentes ou a médio prazo à nossa supremacia inconteste.
Quanto à perda do estadual de 69, Flu 3x2 Fla; este,
um dos jogos mais emocionantes que presenciei no velho Maraca; meu pai nos
levou, eu e o meu irmão.
Lembro, claramente, dos gols do Flamengo,
Liminha, um chutaço de fora da área, no 1° tempo, decretando o 1° empate e
Dionísio, o “bode atômico”, com uma cabeçada indefensável, sempre era desta
forma, aos 15 do 2° tempo.
Jogávamos com dez, desde o final do 1° tempo,
com a expulsão do goleiro, o paraguaio Dominguez, que partiu vertiginosamente
contra a arbitragem da partida, após a validação do 2° gol deles, do Cláudio,
absurdamente impedido, irregular, roubado, fluminensiado.
Mas, a mística do manto rubro-negro entrou em
campo e após o empate tivemos várias chances de ganhar a partida; mas, o
“Sobrenatural de Almeida”, como dizia o tricolor Nelson Rodrigues, salvou o
time das Laranjeiras, que ainda desempatou com um gol do Flávio, centroavante e
goleador; que, de voleio, fez o gol da vitória; a pressão, de novo pelo empate,
persistiu; mas, foi em vão, perdemos outra final, de forma dolorosa.
Para completar este período e ratificando o que
eu falei no “Por Que Eu Sou Flamengo”; comecei a, verdadeiramente, acompanhar o
clube, a partir de 66, apesar de “conhecê-LO” em 64, como já o disse; recordo que, o 1°
jogo que ouvi no meu radinho de pilha, foi um empate em 2 x 2 com o Bonsucesso,
pela 1ª rodada da Taça GB de 66.
Gostava da rádio Globo, com o Mario ViaNNa, com
dois enes, como ele sempre frisava; com o Jo sé Car los A ra ú jo, aquele so “sou
eu” e menos, do locutor “preguiçoso”, Waldir Amaral, o do: “você, ouvinte é a
nossa meta, pensando em você é que procuramos fazer o melhor”.
Mas, era na emissora Continental, com o narrador,
para mim, incomparável, Clóvis Filho, que eu ouvia, torcia, quando não estava
nos campos, Maracanã, Gávea e demais estádios e vibrava, “flamenguisticamente”,
quando ele narrava, a plenos pulmões: “no cant’é gooooooooool do
Flamengoooooooooo”.
A bola poderia entrar no meio do gol; mas, era
sempre no canto e este canto ainda ecoa na minha mente, em minh’alma!
Por conta deste empate, na 1ª rodada, como
disse anteriormente, fomos decidir o título contra o Fluminense e perdemos por
3x1; este, meu 1° vice como torcedor; pior, foi a derrota na final do carioca
daquele ano, por 3x0 para o Bangu; jogo histórico, pela confusão armada pelo
cerebral Almir Pernambuquinho, meu conterrâneo, que, em declaração posterior,
falou que o nosso goleiro estava vendido para o Castor de Andrade, famoso
bicheiro, então, presidente do time alvirrubro.
Em resumo: uma briga foi protagonizada, sendo
expulsos nove jogadores, cinco do Fla e quatro do Bangu, número tal que
determinaria o fim da partida e do campeonato.
No 1° turno, vitória maiúscula, por 2x1, num
domingo à tarde, com chuva torrencial e vitória de virada, gols de Silva,
expulso pouco depois e Almir, um gol de extraordinária raça, aos “quarenta e
uns” minutos do 2° tempo, onde ele deu duas cabeçadas; na 1ª, o Ubirajara
espalmou e na 2ª, o “Pernambuquinho” mergulhou na poça d’água e empurrou a bola
para o fundo das redes adversárias, não sei se chegou lá; mas, ultrapassou a
linha de demarcação.
Guardei, por muitos anos, recortes dos
“retratos” deste gol, publicados nos cadernos esportivos do Jornal do Brasil, Jornal
dos Sports e o O Globo; lamentavelmente, os perdi no tempo.
Olha o forte time banguense: Ubirajara (o Mota),
Fidélis, Luis Alberto, Mario Tito e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges,
Cabralzinho, Ladeira e Aladim; os dois pontas jogariam no time do então Parque
São Jorge, posteriormente.
A 1ª vez que fui ao Maracanã, foi em 67, no
Robertão, 1x1, contra o Flu, gol de Ademar Pantera, artilheiro ao final do
campeonato, com quinze gols; emoção indescritível, ao subir as escadarias e
vislumbrar o verde crescente do gramado; é como começar a perceber um “marzão”
no horizonte que se aproxima aos olhos, à alma e ao coração.
Deste campeonato, lembro, claramente, de dois
jogaços, em seqüência; 4x2 contra o Botafogo, numa 4ª-feira à noite, no Maraca,
com três gols do Ademar e 3x3, no domingo posterior, contra o futuro campeão
Palmeiras, no Pacaembu, gols de Ademar, Ademir (o da Guia), Ademar, Ademir; aí,
o Servílio desafinou e fez 3x2 pros palestrinos; mas, ao final, o Pantera
decretou o empate, em outro “hat trick”, expressão não cogitada à época e sem
pedido de música no “Fantástico”, programa que nasceria em 73.
Nos jogos à noite, eu não deveria escutar,
tinha aula no dia seguinte, bem cedinho; então, eu ia (fingir) dormir, por
ordens da minha mãe; mas, colocava o radinho de pilha, debaixo do travesseiro,
baixinho o suficiente para ouvir, sem que os outros percebessem; quando ela
vinha conferir, eu abaixava mais o som e assim que saía do quarto, eu regulava
o aparelho; mas, difícil mesmo era abafar o grito de gol, comemorar com a
emoção sufocada no fundo do “coxim”.
Esse vitória sobre o Botafogo foi a mais
marcante, pelas circunstâncias deste
torcedor e pela nossa, então, “freguesia”
perante o alvinegro; condição esta, totalmente superada na era ZICO e
amplificada nos anos seguintes.
Continua...
SRN!
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