Descrevo, agora, um dos momentos mais marcantes da minha
história de torcedor flamenguista, que foi a vitória na final do campeonato
carioca de 1978, 1x0 sobre o Vasco, nosso, então, maior rival; status, este,
cada vez mais distante.
Antes, quero colocar algumas informações sobre esta “decisão”, é
conceitual:
§ o Flamengo jogava pelo vitória
simples, qualquer placar, para ser campeão do 2° turno, consequentemente, do
estadual; pois, já havia vencido o 1° turno.
§
o adversário precisava de um
simples empate para ganhar o returno e provocar uma nova e definitiva decisão,
em disputa de melhor-de-três.
§
naqueles anos, uma vitória
valia, apenas, dois pontos e o 1° critério de desempate, entre dois times, para
definição do campeão, era uma partida extra; entre três ou mais, era o saldo de
gols, não, o número de vitórias.
§
no 1° turno, Flamengo,
Fluminense e Vasco terminaram empatados em número de pontos ganhos, PG; assim, obedecido o regulamento da época, o saldo de gols
determinou que o Flamengo era o campeão. Abaixo, seguem a pontuação e demais
informações:
J
|
V
|
E
|
D
|
GP
|
GC
|
SG
|
PG
|
RA
|
||
1°
|
Flamengo
|
11
|
7
|
3
|
1
|
29
|
6
|
23
|
17
|
24
|
2°
|
Fluminense
|
11
|
8
|
1
|
2
|
26
|
9
|
17
|
17
|
25
|
3°
|
Botafogo
|
11
|
6
|
5
|
0
|
22
|
10
|
12
|
17
|
23
|
4°
|
Vasco da Gama
|
11
|
5
|
5
|
1
|
19
|
9
|
10
|
15
|
20
|
§
pelo regulamento atual, RA, o time do Fluminense seria
declarado campeão, sem necessidade de desempate, pois, teria conquistado 25
(vinte e cinco) pontos ou se o critério de desempate fosse o número de
vitórias, ainda que valendo só dois pontos; ou seja, por quaisquer desses dois
motivos, o tricolor de Laranjópolis teria conquistado o 1° turno, válido pela
Taça Guanabara.
§
na rodada derradeira do turno
em questão, no sábado, 14/10, Vasco e Botafogo empataram em 2x2, o que,
virtualmente, já dava o título do turno ao Flamengo, que poderia perder, no dia
seguinte, por até quatro gols de diferença para o Fluminense; mas, perdeu por
2x0, enfim, fomos campeões.
O fato é que o jogo contra o Vasco da Gama, no inesquecível
3/dez/78, foi, para o Flamengo e para o campeonato, o último, válido, também,
pela 1ª Taça Rio, o então 2° turno do carioca; às vezes, esquecida em
estatísticas errôneas, que considera o torneio partir de 82.
Assim é que, este foi o 2° jogo que optei por não acompanhá-lo,
no momento em que o mesmo ocorria, isto porque, como já tinha citado, eu morava
em Recife e naquele dia foi anunciado na mídia televisiva que o jogo seria
transmitido; porém, com uma defasagem de quarenta e cinco minutos, ou
seja, quando a partida estivesse no 2° tempo, a televisão mostraria o 1° e
assim 'acompanhei" a decisão.
Na capital pernambucana, quase em sua totalidade, os recifenses
(também sou, já contei) torcem pelos principais times da cidade; assim, caso
algum gol ocorresse, as chances de eu tomar conhecimento do fato, por ruídos
excessivos de comemoração, a favor ou contrárias, eram mínimas.
O jogo já caminhava para o final e eu via, apenas, o 1°
tempo; quando, aos 41 minutos, sai o gol do Rondinelli e eu sem saber, pois, para mim, ainda estava
0x0 e o intervalo estava chegando.
Morava na praia de Piedade, bairro do município de Jaboatão dos
Guararapes, enfim, do Grande Recife; tínhamos uma turma que “batia uma pelada”, quase que diariamente, pelas manhãs e às tardes, no auge deste brinquedo,
jogávamos War, ainda na versão I, num terraço na casa dos meus pais.
Isso posto, pra dizer que um desses amigos e jogadores, poucos
minutos após o gol do Deus da Raça, chegou lá em casa, correndo e gritando:
“Totonho, Totonho, gol do Flamengo!"
Totonho, por causa do meu nome, mas, também, por conta de um jogador artilheiro
daqueles anos; modestamente, eu também era um goleador, depois eu conto...
Não deixei ele, Marcus, vulgo Doido, continuar, o peguei pela
gola e pelas mangas da camisa e o suspendi, gritando algo do tipo: “não brinca
comigo, não brinca com isso”!
Quem, de fato, era o Doido, eu ou o meu amigo?
Ele se desvencilhou, pediu calma e ligou o radinho de pilha que
estava à mão; nesse momento, o jogo se encerrara e estava tocando o hino do
Flamengo.
Meu Deus, indescritível; estou escrevendo, recordando e me
emocionando de novo.
Gritava feito um louco, peguei um bandeirão rubro-negro que eu
tinha e saí às ruas, tremulando o mesmo; dei sinal para um ônibus da linha 91,
Candeias-Centro, que parou frontalmente à minha casa, o motorista abriu a porta
da frente e eu acessei o coletivo; de fato, naquela época, subia-se pela porta
traseira; mas, isso não importa, sim, as repetidas vezes que
gritei, a plenos pulmões: "Mengôôôôô".
Enquanto eu tinha esse acesso de loucura sadia, o coletivo ficou
parado, esperando não sei o quê, certamente, estavam todos paralisados pela
cena; então, após alguns momentos extasiantes, desci do coletivo, segurando,
com as mãos espalmadas para trás, o pano sagrado rubro-negro.
De fato, eu estava
tão alucinado que não percebi ou vi quaisquer reações daqueles que presenciaram
esta cena tema EXTRAORDINÁRIA.
Fui à residência de vários amigos pra comemorar, bebemorar,
extravasar esta conquista, acompanhei várias resenhas esportivas; na 2ª-feira,
comprei o Globo, o Jornal do Brasil e o Jornal dos Sports e na 3ª, comprei a
revista Placar, então de tiragem semanal; esta publicação, eu colecionei até o
número 1.054, como eu lamento ter parado a coleção e o pior, tê-la perdido, por
completo, em uma de minhas muitas mudanças pessoais e/ou interestaduais.
Enfim, esse foi um dos jogos inesquecíveis que (não) vi, o 1°
capítulo do 3° tri, que foi consumado, posteriormente, com o duplo campeonato
de 79, o especial e o carioca, nessa ordem.
Por sinal, eu, meu irmão e dois amigos, Biu e Lula Lelé,
viajamos de ônibus semi-leito, da Itapemirim, Recife-Rio, para vermos, “in
loco”, no velho e saudoso Maraca, o 0x0 contra o foguinho, que determinou o
tricampeonato para o Mais Querido e outro vice para o mais sofrido, o
vasquinho.
Mas, mesmo presencialmente, a emoção desse título foi menor que
em 78; na ocasião, o Flamengo jogava pelo empate, a conquista era só uma questão de tempo; mas, faltou um gol para
recrudescer a festa e como estávamos em quatro amigos, outras vivências
estariam acontecendo para dividir a nossa atenção.
SRN,
Belo texto @amfcasotti
ResponderExcluirDeu pra viajar um pouco antes de dormir aqui kkkkk
Abraço, e parabéns pelo blog!
Obrigado, Gean Medeiros!
ExcluirAcredite, só agora li o seu comentário.